sábado, 15 de agosto de 2020

DO INTERNACIONALISMO PROLÉTARIO DE LENIN E TROTSKY... A SUA LIQUIDAÇÃO PELO STALINISMO 

No dia 4 de março de 1919 foi fundada a Internacional Comunista (IC), popularmente conhecida como III Internacional. Nos 80 anos da morte de Trotsky reproduzimos um trecho de seu artigo polemizando com a política ultra-esquerdista adotada pelo Stalinismo, que ficou conhecido como “Terceiro Período” da IC, depois substituída pela política de Frentes Populares, orientação que pavimentou a ascensão do Nazismo na Alemanha. 

O lamentável esquematismo dos dirigentes não é totalmente inofensivo; pelo contrário, afeta a revolução a cada passo. O conflito sino-soviético criou a necessidade urgente de mobilizar as massas contra o perigo da guerra e pela defesa da União Soviética. Não resta dúvida de que nessa situação, e ainda nas condições dadas, os partidos comunistas poderiam ter realizado esta tarefa com todo êxito. Para isso era necessário que a imprensa comunista se deixasse ouvir a tremenda voz dos próprios acontecimentos. Mas, quis a sorte que o conflito do Extremo Oriente surgisse justo quando se realizavam os preparativos para o 1º de agosto. Os agitadores e jornalistas oficiais insistiram de maneira tão furiosa e persistente sobre o perigo em geral e a guerra em geral, que o verdadeiro conflito internacional se perdeu de vista e quase não chegou à consciência das massas. Mesmo assim, na política da Internacional Comunista os peixinhos do esquematismo burocrático são tragados pela baleia da realidade viva.

Quanto à luta contra o perigo de guerra, é necessário rever a estratégia do “segundo período”: a importância de uma luta comum contra o perigo de guerra foi uma das principais justificativas do bloco com o Conselho Geral britânico. No plenário do Comitê Central de julho de 1927, Stalin jurou que o bloco com o Conselho Geral se justificava plenamente, em virtude de os sindicatos britânicos nos ajudarem a lutar contra o imperialismo britânico. Portanto, quem exigisse a ruptura do bloco com os fura-greves não estava de coração pela defesa da União Soviética. E assim foi que, em 1926-1927, além da guinada à esquerda dos operários britânicos, o outro grande argumento para conformar o bloco com os reformistas foi o perigo de guerra. Agora parece que tanto a radicalização das massas como a iminência do perigo de guerra justificam o repúdio a qualquer aliança com os reformistas. Tudo se coloca como que para semear a maior confusão possível entre os operários de vanguarda.

Não resta dúvida de que em caso de guerra, inclusive ante o perigo certo de guerra, os reformistas passarão com armas e bagagens para o lado da burguesia. Uma aliança com eles para lutar contra a guerra é tão inútil quanto um bloco para levar adiante a revolução proletária. Precisamente por isso, a justificativa stalinista do Comitê Anglo-Russo como arma para a luta contra o imperialismo foi uma enganação criminosa perpetrada contra os operários.

Mas a história não conhece somente guerras e revoluções, mas também os intervalos entre as mesmas, períodos nos quais a burguesia se prepara para a guerra e o proletariado para a revolução. Assim é o período que vivemos hoje. Devemos afastar as massas dos reformistas que, longe de entrar em decadência, se fortaleceram nos últimos anos. Porém este fortalecimento os faz depender mais que antes de sua base proletária. A tática da frente única é dirigida precisamente a esta dependência. Mas esta tática não deve ser colocada em prática segundo Zinoviev e Brandler, segundo Stalin e Bukhárin; temos que voltar a Lênin.

As três correntes do comunismo

A Oposição de Esquerda, que não assina o dogma do “terceiro período”, será acusada mais uma vez por franco-atiradores do tipo de Monmousseau de cair em desvios direitistas. Depois de tudo que aconteceu nos últimos seis anos, podemos analisar esta acusação com tranquilidade. Já no Terceiro Congresso da Internacional Comunista muitos dos cavalheiros que depois se passaram à socialdemocracia ou permaneceram temporariamente no brandlerismo nos acusaram, a nós e a Lênin, de desvios direitistas. Basta recordar que no Quinto Congresso Louis Sellier foi um dos grandes adversários do “trotskismo”.

Contudo, seguramente os direitistas tratarão de utilizar algumas de nossas críticas. É absolutamente inevitável. Nem todos os argumentos da direita são errados. Em muitas ocasiões os próprios saltos da burocracia dão fundamento às suas críticas. Dentro desse marco, frequentemente usam critérios marxistas para contrapor o oportunismo ao aventureirismo.

Deve se agregar que nas fileiras da oposição, que com toda justiça se autointitula Oposição de Esquerda, existiam há pouco tempo alguns elementos que se uniram a nós em 1924, não porque defendíamos uma posição revolucionária internacional, senão porque combatíamos o aventureirismo de Zinoviev. Muitos franceses, elementos oportunistas em potencial, se abrigaram sob a capa protetora da Oposição russa. Até pouco tempo atrás, muitos deles se vangloriavam de um acordo total (“sans reserves”) conosco. Porém quando se tratou de lutar pelas posições da Oposição abriu-se um abismo entre nós e esses militantes de salão. Eles negam a existência de uma situação revolucionária somente porque não desejam que a mesma se produza.

Muitas pessoas boas se incomodavam sinceramente que nos ocupávamos de introduzir uma barreira entre a Oposição de Esquerda e a de Direita. Diziam que nossa classificação das três correntes fundamentais do comunismo contemporâneo era arbitrária e inaplicável à França, porque ali não existia uma ala direita. Entretanto, os últimos meses, tanto na França quanto em outros países, confirmaram a correção deste “esquema” internacional. A Liga Sindicalista levantou com toda ostentação a bandeira da luta contra o comunismo, e assim encontrou aliados na segunda fila da oposição sindical. Ao mesmo tempo os reformistas romperam com o partido. Em sua luta contra o aventureirismo burocrático tratam de reter seus mandatos com o pretexto de criar um novo partido. Imediatamente, e em virtude de seu parentesco político, a oposição sindical de direita apareceu como vinculada ao novo “partido” parlamentar municipal. Assim tudo vai ocupando o lugar que lhe corresponde. E cremos que nisso La Verité cumpriu uma grande tarefa.

Entre dois pontos se traça uma linha reta. Para traçar uma curva são necessários pelo menos três. Os caminhos da política são muito complexos e curvilíneos. Para avaliar corretamente os distintos agrupamentos, há que examiná-los em suas diversas etapas: em momentos de levante revolucionário e em momentos de refluxo revolucionário. Se queremos traçar a órbita política da Oposição de Esquerda Comunista devemos estabelecer uma série de pontos críticos: os acontecimentos alemães de 1923, a estabilização de 1924, a política de industrialização e a política para o kulak na URSS em 1923-1928, a questão do Kuomintang e a do Comitê Anglo-Russo, a insurreição de Cantão, a caracterização da teoria e a prática do “terceiro período”, etc. Cada uma destas questões abarca toda uma série de tarefas práticas. Deste complexo de ideias e consignas os saqueadores do aparato arrancam frases isoladas e com elas constroem a teoria de uma aproximação entre a direita e a esquerda. Os marxistas visualizam o problema em seu conjunto e mantém consequentemente sua estratégia fundamental, apesar das mudanças circunstanciais. Este método não traz resultados instantâneos, mas é o único que merece confiança. Que os saqueadores saqueiem. Nós nos preparamos para o amanhã!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

80 ANOS DE UM FRACASSO: O TROTSKISMO VIVE! É A ÚNICA CONTINUIDADE DO BOLCHEVISMO!   O Trotskismo na década de 1930 lançou o mesmo “grito d...